terça-feira, 5 de outubro de 2010

Quando o voto se torna apenas obrigação


Desacreditados com a situação política do país, eleitores jogam fora a única oportunidade de mudança que têm nas mãos 

Alisson Gusmão
Montagem sobre imagem/ Ana Luiza Verzola
Em uma sociedade marcada por escândalos políticos seguidos, uns dos outros, uma grande preocupação tende a vir à mente de muitos estudiosos e interessados no assunto: o surgimento de uma classe de “eleitores por obrigação”. Logo, em ano de eleições, uma questão importante deve ser levantada: o que está acontecendo?
Os acontecimentos políticos no decorrer dos últimos anos levam a pensar em uma população cada vez mais desinteressada com toda e qualquer forma de política. Descrentes dos benefícios que uma representação bem estabelecida deveria trazer à população, muitos eleitores nem ao menos se submetem a verificar seus candidatos e selecioná-los melhor, estudando condutas e propostas.
O que preocupa é saber que são os mesmos políticos, envolvidos em acontecimentos que causam repugnância à classe de eleitores, que adquirem ascensão ao cargo eletivo por meio do voto “jogado no lixo”. O que se torna inaceitável na sociedade brasileira é justamente saber que as mesmas pessoas que criticam e abominam as formas de corrupção são as que, em ano eleitoral, apoiam os candidatos de má conduta.
Uma política mal estabelecida é reflexo das relações humanas existentes na sociedade, portanto, os políticos deste país também são reflexo da população que os elegem e que, nem ao menos, recorda-se dos motivos aos quais creditou a confiança. Em vídeo publicado no portal de notícias R7, do grupo Record, em 20 de julho, uma pesquisa feita pelo Instituto Paraná Pesquisas apontou que mais da metade dos eleitores não se lembra em quem votou nas últimas eleições.
É inconcebível pensar em uma sociedade que lutou em toda a história do país pelo direito ao voto, mas que, hoje, o descarta no lixo na primeira oportunidade que surge, sem perceber que se torna cúmplice de pessoas que a todo o momento tentam burlar os ideais propostos pela democracia. Como um eleitor poderá cobrar de seus representantes ou até mesmo da Justiça para que julgue e tire os incorretos, sendo que nem sequer se lembra de quem ajudou a eleger? Assim fica difícil julgar! O que nada mais é do que resultado de atitudes irresponsáveis de quem tem o poder de mudança nas mãos e, no entanto, nega-se a usá-lo e torna-se, assim co-responsável. 
Mas afinal, a quem se atribui toda essa culpa? Não há, em específico, a quem culpar. Todos somos culpados! O que deve ser feito é ressaltar que o eleitor, ao deixar de se interessar pelas discussões políticas e, ainda, pela apresentação de propostas dos candidatos, perde o sentido do voto e torna-se co-responsável da situação absurda. Não se dá conta do poder de mudança que tem em suas mãos. Ao contrário de muitos discursos errôneos de quem ao menos se importa com o país, isso deve vir da ação de cada um. A união pode, sim, fazer a força, mas para que aconteça é necessário que cada eleitor lute pela mudança, que deve ser adquirida a partir de iniciativas transmitidas nas urnas e, ainda, por meio de manifestações políticas. Afinal, política deve ser assunto corriqueiro do dia a dia, já que diz respeito às relações humanas e debates existentes que vão desde o popular até o Congresso Nacional.  

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