terça-feira, 5 de outubro de 2010

“JN” não é tão isento quanto aparenta

Definido como um serviço de notícias, “Jornal Nacional” é tendencioso ao sabatinar a presidenciável Dilma Rousseff 
 Alisson Gusmão

Montagem sobre imagem/ Alisson Gusmão
Todas as noites, em horário nobre da televisão brasileira, grande parte da população, no período de descanso de um dia longo e repleto de afazeres, dirige-se à frente da televisão em buscado que deveria ser informação de qualidade. Para muitos brasileiros, a preferência é por um jornal campeão de audiência, o “Jornal Nacional”.
Sendo o primeiro telejornal a apresentar edições ao vivo e por ser um dos mais antigos, o JN tem longo alcance e é assistido em praticamente todos os Estados desde a primeira transmissão. Como disse Hilton Gomes, um dos apresentadores da primeira edição do telejornal, “O Jornal Nacional, da Rede Globo, é um serviço de notícias integrando o Brasil novo”. A rima feita pelo apresentador representa o que deveria ser a função do jornalismo. Apenas um bem a serviço da população.
Entre os dias 9 e 11 de agosto, o JN entrevistou os três principais candidatos à Presidência da República, sendo eles Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB), conforme ordem de sorteio. Na sabatina, jogo de perguntas e respostas, cada candidato teve direito a 12 minutos para responder questões feitas pelos apresentadores. O que intriga na realização dessas entrevistas é que deveriam ser conduzidas de forma a esclarecer os eleitores a respeito do perfil e propostas dos candidatos, que deveriam ser tratados de forma igual, tanto no que diz respeito às perguntas, como na postura adotada pelos entrevistadores. Mas não foi o que aconteceu.
O público vê no jornalismo, principalmente o televisivo, o alicerce para adquirir informações qualificadas. Sendo assim, o veículo de comunicação torna-se formador de opinião e , por isso, deve ser desprovido de interesses, focado à coletividade.
Tudo isso foi o que não aconteceu na sabatina realizada com a candidata Dilma Rousseff. Os apresentadores Willian Bonner e Fátima Bernardes conduziram a entrevista com vários questionamentos a respeito da coligação e dos apoios que a candidata tem. Mas o que se tornou visível ao telespectador foi que o jornal, senão a emissora, é contra a candidata, já que a todo o momento Bonner criticava a presidenciável, ridicularizando-a em seus questionamentos e, até mesmo, impedindo-a de expor as ideias se propostas de trabalho.
Já com os outros candidatos isso não aconteceu com tanta intensidade. Foram realizadas algumas perguntas semelhantes, mas de forma mais amena, o que possibilitou maior diálogo e um bom “papo” entre jornalistas e entrevistados. A entrevista com Marina Silva teve alguns questionamentos fortes, mas nada que a candidata não conseguisse responder com tranqüilidade, o que realmente fez. Já com o candidato José Serra, a entrevista foi conduzida de forma mais semelhante a um bate-papo de boteco. A conversa não passou de uma troca de experiências.
A Rede Globo, ao longo da história, sempre foi tendenciosa em entrevistas e reportagens político-eleitorais. É a velha forma de manipular a opinião pública. Desde Collor, a emissora transmitem em ano de eleição, apenas o que lhe agrada no perfil político do país, fazendo, assim, campanha indireta para os candidatos aos quais apóia.
Até que ponto é interessante assistir aos telejornais da Rede Globo, principalmente o JN, quando o assunto é eleição? Só se for para nós, estudantes de jornalismo, aprendermos a acompanhar o noticiário com olhar crítico – o que, quiçá, deveria ser prerrogativa também ao grande público da tevê.

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