sábado, 30 de outubro de 2010

E o dia amanhece chuvoso.


Triste como quem necessitava de um abrigo.
Feliz como quem dependia de um auxilio divino.
 Sombrio como quem descobre a doença.
Claro como quem luta pela cura.
Agitado para aqueles cuja função é salvar.
Calmo para aqueles que gostam de descansar.
Chato para aqueles que não conseguem parar.
Legal para quem aprecia dormir e sonhar.
Mas afinal, como será esse dia?
Não sei. Só sei que deve ser aproveitado.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Mais um dia de experiências

Era um dia importante. Logo cedo foi obrigado a despertar, pegar a mochila e partir para mais um desafio: enfrentar muitos jovens e adolescentes indecisos. Fora necessário pegar condução coletiva. Ia reparando as coisas pelo caminho e conversando com a amiga de muitas horas.Ao chegar ao ilustre campus, a surpresa foi notável: teria de auxiliar na produção jornalística.

A manhã foi passando e a correria do “ao vivo” fazendo com que tudo tivesse um gostinho de quero mais. Ligação vai, ligação vem. Entrevista vai, entrevista vem. E mais uma atividade a serviço da informação chegara ao fim.

Ao meio dia era notável o “ronco” no estômago. Foram todos diretamente para o restaurante com nome de fruta saborear os “pratos do dia”. Em meio a diversas combinações de assuntos proseados, eis que surge a voz:

- Eu não tenho dinheiro. Vocês pagam pra mim?

Em um gesto de amizade, todos se unem para fazer uma “mimosa” em prol da companheira de estudos e profissão. Até o mestre entrou na “parada”.

Minutos depois, dirigiam-se ao encontro dos inquietos responsáveis pelo futuro da nação: os estudantes que procuravam esclarecer dúvidas sobre as diversas profissões. Ao chegarem à seus postos, logo recebem a mais nauseante afirmação:

- Graças a Deus o diploma não é exigido!

E mais ainda:

- O curso oposto é melhor que o nosso!

Bastaram essas palavras para que a “merda” estivesse feita. Repugnados por tamanha barbaridade e enjoados de calar-se perante tanta falação, assumiam, pouco a pouco, a palavra e disseminavam o conhecimento junto aos demais.

O dia foi passando e o cansaço batendo à porta. Eis que resolvem encerrar o expediente. Juntamente com a “companheira”, aquela de todas as horas, e o mestre, retorna com a tão famosa condução: o transporte coletivo.

Os assuntos eram acadêmicos, tirando algumas observações pessoais, e o caminho ia se encurtando.

Chegavam ao destino, mas a volta não terminava por aí. Era preciso se separar dos demais e pegar mais uma condução até o destino desejado.
Os pensamentos, em meio à sinfonia de rangidos do veículo já usado e o sono que lhe alcançava aos poucos, foram determinantes para que o caminho torna-se curto e a “viagem” mais rápida.

Ao chegar ao tão esperado lar, a notícia não foi tão boa. Respondera furioso:

- Não acredito que deu embora a Belinha – a cachorrinha era sua protegida na casa.

Ainda nervoso, dirigi-se ao quarto e após horas de pensamentos, chega a uma conclusão:

- Mesmo com as dificuldades, foi gostoso vivenciar novas experiências!

Hortas caseiras concentram acervo de espécies raras

Entre as hortaliças encontradas nas plantações de fundo de quintal, o “quiabão” e a “super vagem” são destaques
Alisson Gusmão 
 Frutas, verduras e legumes frescos são elementos importantes para uma alimentação saudável. Presentes em plantações no fundo de quintais de alguns maringaenses, os alimentos são cultivados por pessoas que mantêm, em casa, espécies raras e sementes de qualidade. É o caso do “quiabão”, produzido por um aposentado em Maringá e famoso em bairro conhecido da cidade.
Em edição publicada em 2008, o jornal Matéria Prima retratou, em texto escrito por Elen Bocca, a história de moradores do jardim Alvorada, região norte de Maringá, que cultivavam hortas com vários produtos distintos. Entre os quais, o quiabo de metro que, produzido por Ilário Moquiuti, 80, chegava a até dois metros de comprimento.
Dois anos após a publicação, o aposentado, hoje morador na Zona 2 (região Central), tem uma plantação com o dobro do tamanho do anterior e de produtos que tinha na antiga casa. Segundo ele, foi necessário muito trabalho para a criação da nova horta, pois a terra estava imprópria para o plantio. “Gastei 78 latas de terra e 18 sacos de adubo para ‘reformular’ a data [o terreno], mas ainda não foi possível o cultivo do quiabo grande, o bicho é enjoado [risos], até pegar dois metros ele é exigente”, afirma.
Elen Bocca, 23, hoje no 4° ano de jornalismo, relata que encontrou nesse assunto prazer para redigir a reportagem. “São essas matérias que dão o ‘gás’ necessário para investigarmos temas curiosos como esses, pois além de informativos, divertem o leitor”, afirma a estudante. Ela conta ainda que se divertiu com o tema e que lhe rendeu recompensas. “Achei diferente, me diverti muito com o senhor Ilário. Muitas pessoas de fora de Maringá me mandaram e-mail pedindo o contato dele. Isso é o mais gostoso, pois você consegue ter um retorno do trabalho e vê que o leitor gostou.”
Moquiuti conta que, depois que Elen o procurou, aconteceu uma história engraçada. “Estava no portão com o quiabo pendurado no pescoço e duas senhoras passaram por mim, olhando com cara feia. Alguns minutos depois uma me disse: ‘você não tem respeito não, onde já se viu, carregando cobra na rua?’”. Ele explicou que o quiabo se parece com uma serpente, pois é grande e de cor mesclada em tons de verde com o cabo inclinado como uma cabeça e a ponta enrolada como um rabo.
Mesmo não conseguindo colher o seu melhor produto, que tem uma característica com menos “baba”, que o diferencia das demais espécies de quiabo, Moquiuti diz receber visitas constantes dos amigos e antigos vizinhos que, além de matar a saudade, vão à procura dos demais produtos. Desses, o que se destaca é a vagem, colhida recentemente e que, também devido ao tamanho, lhe rendeu um novo apelido: “super vagem”. 
Para o engenheiro agrônomo Flávio Antonio Degasperi da Cunha, 48, as hortas de fundo de quintal são plenamente viáveis e não exigem maior conhecimento. Segundo ele, “a agricultura é inerente à raça humana, mas as novas gerações estão perdendo o hábito de cultivar hortaliças”. O mestre em agricologia, que, apesar de já ter ouvido falar, ainda não conhece o quiabo de metro, ressalta a importância dessas plantações, que ajudam no resgate da existência de diversidades genéticas das sementes pouco conhecidas. 
Com uma visão voltada para a importância nutritiva, a nutricionista Érica Letícia Gusmão Antonio, 24, afirma que esses produtos são importantes, pois deles se obtém vitaminas e minerais necessários para o bom funcionamento do organismo. “As plantações caseiras facilitam na alimentação variada. São alimentos mais saudáveis, pois não contêm agrotóxicos”, completa.


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

“A construção da paz deve ser coletivamente”

Leilane Wesselovicz, coordenadora da Pastoral da Criança de Maringá, relembra exemplos de Zilda Arns no trabalho voluntário
Alisson Gusmão
Foto: Drika Favoreto
Foi no horário do almoço, com o típico vazio no estômago e em um dia chuvoso de outubro que a reportagem do jornal Matéria Prima chegou à casa onde está instalado o escritório arquidiocesano da Pastoral da Criança. O objetivo não poderia ser outro: uma entrevista com a coordenadora do movimento, Leilane Rodrigues Garnica Wesselovicz.
O caminho foi tranqüilo. Vários trabalhadores se dirigiam a seus lares ou restaurantes para arrebatar o momento tão aguardado durante toda a manhã. Para não errar, o repórter carregava o mapa das ruas em mãos. Passou pelo cemitério, virou à direita, deu algumas voltas, errou a rua, retornou e, enfim, encontrou o prédio procurado.
Foi só entrar na casa e já era notável a presença das pessoas que dedicam parte do tempo ao próximo: as voluntárias. Elas esperavam pela mesma pessoa: Leilane Wesselovicz, 49, coordenadora arquidiocesana da Pastoral da Criança. O motivo era outro, parabenizá-la pelos anos que completava naquele mesmo dia.
Bastou perguntar pela coordenadora que, com o sorriso de uma das secretárias, veio a resposta: “ela já vem”. Também com um sorriso estampado no rosto, a entrevistada chegou convidando o repórter para almoçar. Foi irresistível! Logo após o almoço e aguardados alguns minutos, suficientes para fazer novas amizades, Leilane, inquieta e animada, começava a responder as primeiras perguntas.
A Pastoral da Criança é um movimento de ação social ligado à Igreja Católica. Como funciona esse trabalho?
A Pastoral da Criança é um instrumento de promoção da vida, porque desenvolve um trabalho que leva a vida em abundância a todas as crianças. Esse trabalho é desenvolvido por líderes voluntárias que o fazem com dedicação, com amor. Elas vão de casa em casa e levam paz, amor e solidariedade a todas as famílias. Além das visitas domiciliares é realizada a celebração da vida. As líderes reúnem as crianças e além de orientar, fazem o trabalho com as mães. As crianças são pesadas para ver como estão se desenvolvendo. Também é desenvolvido um trabalho com gestantes, através de um grupo onde elas se reúnem e recebem informações sobre saúde, nutrição, educação e cidadania.
A senhora está há 22 anos na Pastoral da Criança. Começou como líder voluntária e já trabalhou em vários níveis de coordenação. Por que trabalhar nesse movimento?
A princípio, quando entramos na Pastoral da Criança, temos a ideia de ajudar ao próximo, levar qualidade de vida para as pessoas. Com o passar do tempo, percebemos que as maiores beneficiadas somos nós mesmas, porque ganhamos muito com isso. O fato de saber que estamos contribuindo para a qualidade de vida das famílias, para diminuir as injustiças sociais, as desigualdades, faz com que aumente a nossa auto-estima. É o amor!
Além de fundadora, quem foi Zilda Arns para a Pastoral da Criança?
Ela foi uma guerreira. Plantou uma sementinha lá em Florestópolis [distante 104 Km de Maringá] por conta do índice muito alto de mortalidade infantil, desenvolvendo ações simples, mas eficazes, que foram se multiplicando pelos outros municípios, Paraná, Brasil e hoje está em 21 países. É uma guerreira que realmente promoveu vidas pelo mundo todo. É um exemplo de mulher.
Ela [Zilda Arns] estava em missão no Haiti, quando foi soterrada no terremoto de 12 de janeiro. Qual era essa missão no país e como foi receber a notícia do desastre?
A missão dela seria implantar a Pastoral da Criança lá também e, infelizmente, no momento em que ela estava dando uma palestra, foi ceifada por esse terremoto. Quando a gente fala da doutora Zilda nos emocionamos porque realmente ela [pausa], nos dava segurança. Eu tive a oportunidade de recebê-la aqui, enquanto coordenadora da Pastoral da Criança, quatro vezes na minha gestão. Era uma pessoa iluminada, uma pessoa que você não via séria nunca, sorria o tempo todo. Transmitia muita paz, muita segurança, muita força. Quando ela vinha a Maringá, elevava a auto-estima das líderes, motivava o trabalho mais ainda. A princípio, quando veio a notícia do falecimento dela, nós ficamos bem desanimadas e, no primeiro momento, até pensamos que o trabalho poderia realmente diminuir, mas  percebemos que isso acabou nos dando uma força maior ainda.
Em Maringá, quais são as metas e os obstáculos que a senhora encontra?
Nós acompanhamos aqui na Arquidiocese de Maringá mais de 14 mil crianças. São 28 municípios e 57 paróquias. Acompanhamos apenas 40% das crianças pobres, enquanto 60% estão descobertas. Um dos entraves é esse: a falta de lideranças, de voluntárias para que a gente possa atingir 100% das crianças acompanhadas. Infelizmente o voluntariado hoje está difícil, porque alguns anos atrás as mulheres não trabalhavam fora. Hoje, a realidade é outra, as mulheres vão trabalhar para ajudar no orçamento familiar, mas mesmo assim, aquelas que trabalham fora, que têm outras atividade, continuam com menos intensidade. Menos famílias acompanhadas, mas continuam. Antes eram muito mais líderes que conseguiam acompanhar um número maior de crianças.
A senhora consegue desenvolver todos os trabalhos da Pastoral mesmo com a equipe pequena?
Conseguimos. Todas as ações propostas pela coordenação nacional desenvolvemos aqui, inclusive, agora em Maringá, vai ser implantado um projeto piloto para o Brasil inteiro, vai ser modelo. Maringá e Foz do Iguaçu são as duas cidades piloto que vão desenvolver esse projeto. É em relação à obesidade, porque trabalhamos muito com a desnutrição que ainda hoje existe, mas com uma porcentagem bem pequena. A maior preocupação agora é com a obesidade. Temos percebido que as crianças estão com problemas sérios de saúde por conta , infelizmente, da má alimentação.
O que a senhora espera para o futuro da Pastoral da Criança?
Acredito que é importante que possamos atrair mais voluntários, porque é um trabalho muito gratificante, que nos traz satisfação enorme. A construção da paz deve ser coletivamente, com as atitudes e práticas do bem comum. Se todos nós nos juntarmos para desenvolver um trabalho, por pouco tempo que seja, vai se transformar em um grande trabalho e, com isso, vamos diminuir as desigualdades sociais e promover a justiça social. 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

“A sociedade sem história não é nada”

Loide Caetano, coordenadora do Museu da História de Maringá, defende a importância da conservação da memória 
Alisson Gusmão
 Em meio a uma tarde de maio, com um sol típico de outono e o vento fresco soprando por entre as estruturas físicas do centro universitário, que um compromisso planejado estava prestes a se cumprir. A entrevista estava marcada para 15h, no local planejado, o Cesumar (Centro Universitário de Maringá). Para chegar até a sala combinada era preciso transitar por entre as famosas bibliografias contidas na biblioteca do campus. O andar era o 2º e a sala, uma bem no final do corredor, escondida ao lado de outros dois escritórios, que bem podia ser comparada a um cofre, pois mantém o resultado de um trabalho intenso de desvendar as histórias passadas do município de Maringá.
A entrevista era com a professora Loide Caetano, graduada em História pela UEM (Universidade Estadual de Maringá) e mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Bernardo do Campo. Pelo Cesumar, ela exerce o cargo de coordenadora e responsável em por em prática os trabalhos do Museu da História de Maringá.
Após alguns minutos, a entrevistada chega e com apenas um sorriso e um cumprimento faz toda a tensão do momento dar lugar a uma conversa calma, para o início de um breve resgate da memória ou uma completa aula de história.

Loide Caetano, a casa do colono e as obras do museu histórico 


A senhora é graduada em história e mestre em ciências da religião. Por que essa escolha e como é seguir esse rumo de estudos?
A escolha do curso de história foi pelo prazer mesmo, porque eu gostava. Eu entrei na faculdade tardiamente, já tinha 32 anos, e na época pensei em optar por pedagogia ou até mesmo direito, que são áreas também interessantes, mas preferi história mesmo. Eu tive uma professora, uma freira alemã, no primário e nos primeiros anos do ginásio. Ela nos ensinava de uma forma muito gostosa e eu aprendi a gostar de história por causa dela. E ciências da religião eu decidi quando fiz a minha graduação. Tinha um projeto de pesquisa que seria o de conclusão de curso e era sobre a história da Igreja Presbiteriana aqui da região de Maringá, mas quando eu fui procurar um orientador, não houve esse interesse pelo meu objeto de pesquisa. Eu até sinto que eles acharam que não era um tema interessante. Aí eu guardei esse projeto e pensei em fazer o meu mestrado em uma instituição que ‘puxasse’ para esse lado religioso, então eu fui para a Universidade Metodista, de São Bernardo do Campo. Meu orientador foi um dos expoentes da Sociologia no Brasil, saudosa memória do professor Mendonça.
Qual a importância e contribuição do resgate da conservação histórica da sociedade?
Uma sociedade que não preserva a sua história, a sua memória, não tem identidade, porque a gente não cai de para-quedas. Olhe, por exemplo, o Cesumar, aquilo que era, como o professor Wilson [Matos – reitor] sempre fala: um lixão. De repente é essa maravilha aí. Agora, se a gente não entender essa história, não estudá-la, não saber o que veio antes, isso acaba ficando uma coisa sem importância. A memória tem que ser preservada e a história também, por uma questão de identidade. Você se vê naquilo ali. A sociedade sem história não é nada.
Qual o foco dos estudos do museu?
O que o museu pretende é contar a história do desenvolvimento de Maringá. Vai falar desde a criação de Maringá, provavelmente da sua pré-história, já que esse lugar foi habitado por vários ancestrais, os indígenas e colonos que também passaram por aqui. Iniciamos desde lá na época da Companhia Melhoramentos [Norte do Paraná], os desbravadores, enfim, a questão econômica, o desenvolvimento industrial.
Quanto aos projetos, o que a senhora espera e quais as contribuições que as pesquisas acadêmicas podem trazer para o museu?
São dois projetos distintos. A respeito dos pioneiros é um projeto de pesquisa docente, ligado à diretoria de pesquisa do Cesumar, e nesse projeto pretendemos levantar a história de cada pioneiro que é nome de rua em Maringá, nele estão envolvidos os alunos do 2º ano de jornalismo. O outro projeto é, na verdade, um grupo de pesquisa que está sendo formado por mim e pelo professor Selson Garuti e pretendemos desenvolver a pesquisa a respeito do campo religioso da região de Maringá e eu espero bons resultados, eu acho [risos]. Eles serve como material para próximas pesquisas, servem como fonte de pesquisa. O museu não será apenas um local para as pessoas visitarem e verem a história. O grande projeto é que o museu se torne um centro de pesquisa também, um local onde se possam desenvolver outras pesquisas. Então, vai ser um espaço didático-pedagógico também.
Sobre a infra-estrutura. Como está o andamento das obras e como será a estrutura visual?
Se você passar por lá vai ver uma casinha de madeira. Uma casa que estava no centro da cidade, foi trazida para cá e reconstruída da mesma forma. Naquele espaço vai ser repetido, digamos assim, o cotidiano da vida do pioneiro, como ele vivia, o que ele fazia, enfim, isso na parte externa. E na parte interna vai ser criado todo um ambiente de uma vida no campo. [O visitante] Vai poder observar todo o desenvolvimento da cafeicultura até a colheita, os instrumentos de trabalho, os meios de transporte que eram usados, a horta, o poço, o banheiro, jardim, galinheiro, toda essa estrutura que vai mostrar como era a vida desse colono, desse trabalhador. E na parte grande, de alvenaria, vamos ter um museu que vai utilizar uma tecnologia de ponta para contar essa história de Maringá.O visitante vai ter essa história contada em vídeos, mas de forma dinâmica, moderna, usando recursos digitais para essa apresentação.
A senhora coordenou, recentemente, a publicação de uma revista histórica em comemoração ao aniversário da Igreja Presbiteriana Independente de Maringá. Como foi essa experiência e no que isso pode contribuir para a história da cidade?
Eu fui convidada para fazer parte da revista, e fui com muita alegria fazer parte dessa comissão, mas quando eu percebi tinha feito toda a revista, porque me envolvi e a coisa foi contagiando. São fatos novos mas, pelo fato de eu já ter feito isso, naveguei com certa facilidade sobre esse assunto. Foi uma experiência muito boa. É claro que as críticas existem, a partir do momento que você publica algo está dando a cara a tapa, se torna visível, mas ate mesmo as críticas fazem parte do processo. O interessante foi que eu viajei para entrevistar o primeiro pastor da igreja e foi ele que me batizou quando criança. Foi muito emocionante, eu chorei muito, ele e os filhos também. Nos emocionamos muito, mas eu consegui fazer a entrevista. O que me deixou triste, mas ao mesmo tempo impressionada, foi que este ano ele faleceu, mas penso: “nossa que bom que eu consegui falar com ele a tempo, antes dele partir.” Foi tudo muito bom.
Quanto ao resgate da história, o que a senhora espera para o futuro?
O grande sonho que eu tenho com o museu e que ele seja efetivamente transformado em um espaço de aprendizagem. Não ser apenas bonito, interessante e moderno mas que gere no visitante esse gosto pela preservação da memória, da história. E quando eu penso em transformá-lo em um lugar de pesquisa é para que os estudantes aprendam ao caminhar pelo museu. A pesquisa faz parte do processo da aprendizagem mesmo. Sem ela a aprendizagem fica no nível da decoreba.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O respeito à vida ultrapassa a esperança

As consequências que os acidentes de trânsito podem causar na vida de alguém vão além de sequelas físicas
  
”Cerca de 420 pessoas lotam o auditório Dona Etelvina para prestigiar e participar do debate sobre trânsito em Maringá, promovido pelo Cesumar e com o apoio de O Diário. O site odiario.com acompanha o debate em tempo real.” Jornal O Diário Online, 25 de agosto de 2010, atualizado às 10h09.


Alisson Gusmão
Ela quase não sobreviveu ao acidente. Ficou entre a vida e a morte na Unidade de Tratamento Intensivo. Ao todo foram três meses internada e a pressão era tão baixa que, se não fossem os aparelhos, chegaria próxima de zero. Os médicos lutavam incansavelmente para salvar a vida dela. A cada dia era uma nova batalha, usavam medicamentos e aparelhos para controlar os sentidos da adolescente. Maria, a mãe, não acreditava estar vendo a filha de apenas 15 anos sofrendo tudo aquilo. O capotamento foi tão grave que a tetraplegia foi inevitável, os médicos não conseguiram tamanho sucesso.
– Sua filha sobreviveu, mas ficará sem nenhum movimento do corpo para o resto da vida – dizia o médico, ao mesmo tempo em que tentava consolar a mãe, que passara noites e noites sem dormir, junto ao leito da filha, imóvel e, aparentemente, sem forças. O momento era de dor e alegria. Aquela menina, que acabara de terminar o curso de modelo e sonhava com a carreira, estava vendo seus sonhos serem destruídos, mas o importante é que estava viva.
Vendo que a filha se sentia sozinha e não tinha resultados positivos, a mãe decidiu levá-la para casa, mesmo contrariando a orientação médica.
– A sua filha não irá resistir, a viagem é muito longa. A pressão vai baixar muito – dizia o médico responsável pela paciente.
Mesmo assim a mãe se responsabilizou e levou a filha a uma viagem de cerca de 500 quilômetros de distância. O sofrimento e a angústia eram tamanhos que a menina mal conseguia conversar. Mal sabia ela que os familiares e amigos a esperavam com uma festa e diversos cartazes espalhados pela casa.
Esperavam ansiosos por vê-la fora de perigo, ao contrário do que viram no hospital.
– Chegou. Ela chegou – surge uma voz, gritando.
Era o irmão de 9 anos que sofrera muito ao ver a irmã no hospital, mas que tinha esperança na recuperação.
– Todo mundo animado, viu? – ele havia preparado uma canção para, juntos, cantarem em homenagem à irmã.
Mas o baque foi tão grande ao vê-la numa maca, imóvel e sem alegria, que a voz de muitos não saía, saíam apenas palavras de afeto e incentivo daqueles que já conheciam a situação.
Os dias foram se passando e aos poucos os resultados se tornavam positivos. Aquela menina, desenganada pelos médicos, já apresentava os primeiros sinais de recuperação. Com o incentivo dos familiares e de alguns dos amigos que ainda restavam, os movimentos voltavam devagar e, com o passar do tempo, já recuperava o controle dos braços. Conseguia se manter sentada e os ferimentos causados pelos meses que passou de cama já estavam indo embora.
Foram anos de tratamento: médico, fisioterapêutico e psicológico. Passara por vários hospitais de reabilitação e usara cadeiras de rodas diferentes até conseguir o grande avanço da vida: o andador.
Passados 10 anos do trágico acidente, a recuperação era tamanha que ninguém acreditava ao ver o resultado. Agora, com 25 anos, a jovem já terminara a faculdade de nutrição, profissão que descobriu nos hospitais por onde passou. Trabalhara em alguns locais e aprendera a conviver com a própria situação.
Lutava pela independência. Via amigos saírem, eles festejavam à noite inteira e retornavam tranquilamente para seus lares. Ela não podia. A acessibilidade com a cadeira de rodas era precária e com o andador não aguentava mais de cinco minutos, mas a esperança nunca acabava. O que lhe restava era a alegria pelo que conquistava diariamente.
Bem melhor do que antes, passa por mais uma prova de fogo. Um conhecido havia ficado sem os movimentos das pernas, em um acidente de trabalho. Era preciso se aproximar. O menino não tinha mais apreço pela vida, mas a vida era muito além do que aquilo que ele passava. Havia solução, havia como resgatar a felicidade.
Pensando em ajudar, a menina se aproximou do amigo e tentou reanimá-lo, trocando experiências e lutando para que ele recuperasse o amor à vida.
 – A vida é muito mais do que isso, meu amigo – dizia, incansavelmente.
Lutou tanto que conseguiu salvar o amigo. Mas a cabeça já não era a mesma. Os avanços já não vinham mais, gastou tanto as forças com o amigo, que esquecera de si mesma.
Os dias e meses se passavam e o sonho de se recuperar cresceu novamente. A vida estava repleta de altos e baixos. Certo dia acordou muito animada, sentia-se outra pessoa. Acreditava que o milagre estava por vir. Logo de manhã lembrou-se do que uma senhora, que fazia orações para enfermos, lhe havia dito há alguns meses:
– O dia do milagre está chegando, você vai alcançar os quatro cantos do mundo, minha filha – isso se repetia em sua mente durante o dia todo.
Logo que o sol se pôs, e no ápice de sua esperança, o sonho estava para se realizar. A mãe preparava o jantar quando ouviu os gritos da filha no quarto. Assustada, correu para ver o que havia acontecido, e se deparou com uma cena sublime; a jovem andava sem o apoio de nenhum instrumento. Chamou todos da família. O choro, emocionado. Todos estavam em prantos. Sorriam e choravam ao mesmo tempo. Ela andava de um lado para o outro, agradecia a Deus pelo que aconteceu. Como num despertar, deparou-se com suas pernas imóveis novamente, estava no chão do quarto, ao lado da cama e não conseguia se levantar. Tudo aquilo era apenas um sonho. 

Obs: Crônica baseada em fatos reais, em homenagem à história de Érica Letícia.

“JN” não é tão isento quanto aparenta

Definido como um serviço de notícias, “Jornal Nacional” é tendencioso ao sabatinar a presidenciável Dilma Rousseff 
 Alisson Gusmão

Montagem sobre imagem/ Alisson Gusmão
Todas as noites, em horário nobre da televisão brasileira, grande parte da população, no período de descanso de um dia longo e repleto de afazeres, dirige-se à frente da televisão em buscado que deveria ser informação de qualidade. Para muitos brasileiros, a preferência é por um jornal campeão de audiência, o “Jornal Nacional”.
Sendo o primeiro telejornal a apresentar edições ao vivo e por ser um dos mais antigos, o JN tem longo alcance e é assistido em praticamente todos os Estados desde a primeira transmissão. Como disse Hilton Gomes, um dos apresentadores da primeira edição do telejornal, “O Jornal Nacional, da Rede Globo, é um serviço de notícias integrando o Brasil novo”. A rima feita pelo apresentador representa o que deveria ser a função do jornalismo. Apenas um bem a serviço da população.
Entre os dias 9 e 11 de agosto, o JN entrevistou os três principais candidatos à Presidência da República, sendo eles Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB), conforme ordem de sorteio. Na sabatina, jogo de perguntas e respostas, cada candidato teve direito a 12 minutos para responder questões feitas pelos apresentadores. O que intriga na realização dessas entrevistas é que deveriam ser conduzidas de forma a esclarecer os eleitores a respeito do perfil e propostas dos candidatos, que deveriam ser tratados de forma igual, tanto no que diz respeito às perguntas, como na postura adotada pelos entrevistadores. Mas não foi o que aconteceu.
O público vê no jornalismo, principalmente o televisivo, o alicerce para adquirir informações qualificadas. Sendo assim, o veículo de comunicação torna-se formador de opinião e , por isso, deve ser desprovido de interesses, focado à coletividade.
Tudo isso foi o que não aconteceu na sabatina realizada com a candidata Dilma Rousseff. Os apresentadores Willian Bonner e Fátima Bernardes conduziram a entrevista com vários questionamentos a respeito da coligação e dos apoios que a candidata tem. Mas o que se tornou visível ao telespectador foi que o jornal, senão a emissora, é contra a candidata, já que a todo o momento Bonner criticava a presidenciável, ridicularizando-a em seus questionamentos e, até mesmo, impedindo-a de expor as ideias se propostas de trabalho.
Já com os outros candidatos isso não aconteceu com tanta intensidade. Foram realizadas algumas perguntas semelhantes, mas de forma mais amena, o que possibilitou maior diálogo e um bom “papo” entre jornalistas e entrevistados. A entrevista com Marina Silva teve alguns questionamentos fortes, mas nada que a candidata não conseguisse responder com tranqüilidade, o que realmente fez. Já com o candidato José Serra, a entrevista foi conduzida de forma mais semelhante a um bate-papo de boteco. A conversa não passou de uma troca de experiências.
A Rede Globo, ao longo da história, sempre foi tendenciosa em entrevistas e reportagens político-eleitorais. É a velha forma de manipular a opinião pública. Desde Collor, a emissora transmitem em ano de eleição, apenas o que lhe agrada no perfil político do país, fazendo, assim, campanha indireta para os candidatos aos quais apóia.
Até que ponto é interessante assistir aos telejornais da Rede Globo, principalmente o JN, quando o assunto é eleição? Só se for para nós, estudantes de jornalismo, aprendermos a acompanhar o noticiário com olhar crítico – o que, quiçá, deveria ser prerrogativa também ao grande público da tevê.

Quando o voto se torna apenas obrigação


Desacreditados com a situação política do país, eleitores jogam fora a única oportunidade de mudança que têm nas mãos 

Alisson Gusmão
Montagem sobre imagem/ Ana Luiza Verzola
Em uma sociedade marcada por escândalos políticos seguidos, uns dos outros, uma grande preocupação tende a vir à mente de muitos estudiosos e interessados no assunto: o surgimento de uma classe de “eleitores por obrigação”. Logo, em ano de eleições, uma questão importante deve ser levantada: o que está acontecendo?
Os acontecimentos políticos no decorrer dos últimos anos levam a pensar em uma população cada vez mais desinteressada com toda e qualquer forma de política. Descrentes dos benefícios que uma representação bem estabelecida deveria trazer à população, muitos eleitores nem ao menos se submetem a verificar seus candidatos e selecioná-los melhor, estudando condutas e propostas.
O que preocupa é saber que são os mesmos políticos, envolvidos em acontecimentos que causam repugnância à classe de eleitores, que adquirem ascensão ao cargo eletivo por meio do voto “jogado no lixo”. O que se torna inaceitável na sociedade brasileira é justamente saber que as mesmas pessoas que criticam e abominam as formas de corrupção são as que, em ano eleitoral, apoiam os candidatos de má conduta.
Uma política mal estabelecida é reflexo das relações humanas existentes na sociedade, portanto, os políticos deste país também são reflexo da população que os elegem e que, nem ao menos, recorda-se dos motivos aos quais creditou a confiança. Em vídeo publicado no portal de notícias R7, do grupo Record, em 20 de julho, uma pesquisa feita pelo Instituto Paraná Pesquisas apontou que mais da metade dos eleitores não se lembra em quem votou nas últimas eleições.
É inconcebível pensar em uma sociedade que lutou em toda a história do país pelo direito ao voto, mas que, hoje, o descarta no lixo na primeira oportunidade que surge, sem perceber que se torna cúmplice de pessoas que a todo o momento tentam burlar os ideais propostos pela democracia. Como um eleitor poderá cobrar de seus representantes ou até mesmo da Justiça para que julgue e tire os incorretos, sendo que nem sequer se lembra de quem ajudou a eleger? Assim fica difícil julgar! O que nada mais é do que resultado de atitudes irresponsáveis de quem tem o poder de mudança nas mãos e, no entanto, nega-se a usá-lo e torna-se, assim co-responsável. 
Mas afinal, a quem se atribui toda essa culpa? Não há, em específico, a quem culpar. Todos somos culpados! O que deve ser feito é ressaltar que o eleitor, ao deixar de se interessar pelas discussões políticas e, ainda, pela apresentação de propostas dos candidatos, perde o sentido do voto e torna-se co-responsável da situação absurda. Não se dá conta do poder de mudança que tem em suas mãos. Ao contrário de muitos discursos errôneos de quem ao menos se importa com o país, isso deve vir da ação de cada um. A união pode, sim, fazer a força, mas para que aconteça é necessário que cada eleitor lute pela mudança, que deve ser adquirida a partir de iniciativas transmitidas nas urnas e, ainda, por meio de manifestações políticas. Afinal, política deve ser assunto corriqueiro do dia a dia, já que diz respeito às relações humanas e debates existentes que vão desde o popular até o Congresso Nacional.