sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Hortas caseiras concentram acervo de espécies raras

Entre as hortaliças encontradas nas plantações de fundo de quintal, o “quiabão” e a “super vagem” são destaques
Alisson Gusmão 
 Frutas, verduras e legumes frescos são elementos importantes para uma alimentação saudável. Presentes em plantações no fundo de quintais de alguns maringaenses, os alimentos são cultivados por pessoas que mantêm, em casa, espécies raras e sementes de qualidade. É o caso do “quiabão”, produzido por um aposentado em Maringá e famoso em bairro conhecido da cidade.
Em edição publicada em 2008, o jornal Matéria Prima retratou, em texto escrito por Elen Bocca, a história de moradores do jardim Alvorada, região norte de Maringá, que cultivavam hortas com vários produtos distintos. Entre os quais, o quiabo de metro que, produzido por Ilário Moquiuti, 80, chegava a até dois metros de comprimento.
Dois anos após a publicação, o aposentado, hoje morador na Zona 2 (região Central), tem uma plantação com o dobro do tamanho do anterior e de produtos que tinha na antiga casa. Segundo ele, foi necessário muito trabalho para a criação da nova horta, pois a terra estava imprópria para o plantio. “Gastei 78 latas de terra e 18 sacos de adubo para ‘reformular’ a data [o terreno], mas ainda não foi possível o cultivo do quiabo grande, o bicho é enjoado [risos], até pegar dois metros ele é exigente”, afirma.
Elen Bocca, 23, hoje no 4° ano de jornalismo, relata que encontrou nesse assunto prazer para redigir a reportagem. “São essas matérias que dão o ‘gás’ necessário para investigarmos temas curiosos como esses, pois além de informativos, divertem o leitor”, afirma a estudante. Ela conta ainda que se divertiu com o tema e que lhe rendeu recompensas. “Achei diferente, me diverti muito com o senhor Ilário. Muitas pessoas de fora de Maringá me mandaram e-mail pedindo o contato dele. Isso é o mais gostoso, pois você consegue ter um retorno do trabalho e vê que o leitor gostou.”
Moquiuti conta que, depois que Elen o procurou, aconteceu uma história engraçada. “Estava no portão com o quiabo pendurado no pescoço e duas senhoras passaram por mim, olhando com cara feia. Alguns minutos depois uma me disse: ‘você não tem respeito não, onde já se viu, carregando cobra na rua?’”. Ele explicou que o quiabo se parece com uma serpente, pois é grande e de cor mesclada em tons de verde com o cabo inclinado como uma cabeça e a ponta enrolada como um rabo.
Mesmo não conseguindo colher o seu melhor produto, que tem uma característica com menos “baba”, que o diferencia das demais espécies de quiabo, Moquiuti diz receber visitas constantes dos amigos e antigos vizinhos que, além de matar a saudade, vão à procura dos demais produtos. Desses, o que se destaca é a vagem, colhida recentemente e que, também devido ao tamanho, lhe rendeu um novo apelido: “super vagem”. 
Para o engenheiro agrônomo Flávio Antonio Degasperi da Cunha, 48, as hortas de fundo de quintal são plenamente viáveis e não exigem maior conhecimento. Segundo ele, “a agricultura é inerente à raça humana, mas as novas gerações estão perdendo o hábito de cultivar hortaliças”. O mestre em agricologia, que, apesar de já ter ouvido falar, ainda não conhece o quiabo de metro, ressalta a importância dessas plantações, que ajudam no resgate da existência de diversidades genéticas das sementes pouco conhecidas. 
Com uma visão voltada para a importância nutritiva, a nutricionista Érica Letícia Gusmão Antonio, 24, afirma que esses produtos são importantes, pois deles se obtém vitaminas e minerais necessários para o bom funcionamento do organismo. “As plantações caseiras facilitam na alimentação variada. São alimentos mais saudáveis, pois não contêm agrotóxicos”, completa.


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