sábado, 29 de outubro de 2011

Infinitamente voar...

Sentia-se como se nunca mudasse a estação. Recorria todos os dias aquelas mesmas canções. Melodias que eram capazes de transportar uma pessoa para lugares jamais sentidos sem, sequer, tirá-las do lugar. A alma voava infinitamente, percorria quilômetros, por lagos, campos, cidades, florestas, oceanos. Era como se estivesse em um mundo diferente, onde apenas as coisas boas dessa vida existiam. O vento batia no seu rosto enquanto aquela música soava em seus ouvidos. Enquanto olhava os lindos jardins floridos, que pareciam não ter fim, lembrava-se da pessoa que compôs tamanha obra de arte. Sem, sequer, reparar nas aparências, apreciava o seu mais interno sentimento ao compor cada detalhe, cada nota musical, cada compasso. Tudo era perfeito.

Entendia que não era a única pessoa neste mundo, que existiam outras que, mesmo poucas, também viviam os mesmos momentos. Aquela inquietação da alma que não deixava de ser uma dor e, ao mesmo tempo, uma alegria intensa. Um estado de espírito jamais explicável. Percebia que, em cada frase melódica, novos segredos eram revelados. Era como se o som fosse reproduzido em linhas e cores que, apanhando-o no flutuar de sua leveza interior, eram capazes de envolver de tal maneira que parecia não querer chegar ao fim. Como relâmpagos, apareciam cenas que representavam a oscilação de sentimentos. Às vezes muito felizes, às vezes angustiantes. Em alguns momentos eram cômodos, mas em outros provocavam uma inquietação sem fim.

Porque aquilo? O que o faria se sentir dessa forma? Estava triste ou feliz? Não tinha nenhuma resposta. Era apenas a música que o transportava. Como se a razão de tudo fosse única: ouvir. Repetia dezenas de vezes a mesma faixa do CD e não entendia porque não enjoava. Era como se aquela música fosse feita para uma pessoa. Tudo o que queria era continuar daquele jeito. Sonhava em resumir a sua vida naquele momento de esplendorosos sentimentos, porém intraduzíveis. Mas como toda e qualquer canção tem de ser finalizada, a cada dia ficava uma lembrança, algo que dizia “não pare, ainda terá muito mais”.

E sempre esperava!

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